Porque milhares de pessoas se reuniram em avenidas pra cantar as músicas dele - em meio a flores, velas, e mensagens emocionadas. Porque não se fala em outra coisa.
Porque tem gente que precisa de muito menos do que acusações de abuso infantil e envolvimento com substâncias controversas, comportamento recluso e patológico, ou uma insatisfação tão gritante com a própria imagem - quiçá passado/origem - que acabou por terminar numa espécie de auto-mutilação. Tem gente que precisa de muito menos do que isso pra levantar a ira e o repúdio mundiais, e no entanto hoje o mundo inteiro tá com aquela cara de parece-que-morreu-algum-parente-meu.
Porque eu fico olhando pra vida dessas pessoas – os gênios – e sempre tive vontade de perguntar pra eles se eles acham que vale a pena, serem gênios. Porque olhando assim de longe, eu fico com a sensação de que deve ser muito difícil, sabe. A impressão que dá é que eles não pertencem, não se encontram, não são felizes. Que não foram feitos pro nosso mundo, não entendem a nossa sociedade.
Acabam levando a vida solitários, tentando lidar da forma menos insana possível com o absurdo de tanto exagero ao redor. Sucesso, dinheiro, poder, idolatria, oportunismo, vício. Numa busca incessante por alguma forma de plenitude e sossego que nunca alcançam.
E a gente também não ajuda. Eles vêm, nos tocam e nos influenciam de tal maneira, e retribuímos perdendo o bom senso e muitas vezes o respeito. Não os deixamos respirarem, entramos numa perseguição doentia alimentada pela curiosidade sórdida, pela sede de qualquer tipo de notícia que nos aproxime ainda mais deles. Porque fazer parte tão importante do nosso dia-a-dia através da arte aparentemente não é o suficiente. E assim acabamos nós também contribuindo pra perpetuar o pior.
E é por tudo isso que eu sempre quis saber a resposta deles.
Porque agora eu olho pra todas as manifestações de carinho e gratidão. Olho pra história da cultura pop e da música, das quais ele indubitavelmente é ícone. Vejo o quanto ele marcou toda uma geração. E acho que vale a pena.
Mas aí eu vejo o sorriso daquele menininho negro com um talento tão imenso que já não cabia nele. E comparo com o rosto branquérrimo e deformado dos últimos anos, emanando fragilidade e um peso que também parecia que já não cabia mais nele. Aí eu assisto às pessoas desoladas prestando homenagens tão bonitas em cada canto do globo, enquanto muitas manchetes giram em torno do tal exame toxicológico e das polêmicas da custódia das crianças e das dívidas.
E então eu me pergunto se vale a pena. Se é um preço que compensa ser pago.
No fundo, assim numa esperança egoísta, eu gosto de pensar que ele me responderia que sim.
"Sim, Mariana. Apesar de não ter tido infância, de ter sido explorado e traumatizado pela minha própria família, de ter vivido com uma angústia constante, de ter enlouquecido no meio de tanta grandeza. Apesar de mesmo agora que morri, pessoas estarem mais preocupadas em saber detalhes mórbidos da minha autópsia e em discutir aspectos médicos da minha morte do que em comentar sobre o meu legado e sobre meus projetos sociais. Apesar de tudo isso, vale a pena nascer gênio. Eu gostei de ter passado por aqui, gostei de ter sacudido um pouco as coisas e ter feito história. E pelo menos por alguns momentos, cheguei a ser feliz."
Farewell, Michael. 'Brigada. O que seria da gente, sociedade, sem vocês gênios pra continuarem nos encantando/influenciando/mudando/chocando sempre? Uma pena que o preço costuma ser tão estratosférico quanto o talento de vocês. E infelizmente, ninguém - nós, a família, os amigos, ou vocês próprios - faz a mea culpa. Muito menos reflete e aprende com os excessos cometidos.
Porque tem gente que precisa de muito menos do que acusações de abuso infantil e envolvimento com substâncias controversas, comportamento recluso e patológico, ou uma insatisfação tão gritante com a própria imagem - quiçá passado/origem - que acabou por terminar numa espécie de auto-mutilação. Tem gente que precisa de muito menos do que isso pra levantar a ira e o repúdio mundiais, e no entanto hoje o mundo inteiro tá com aquela cara de parece-que-morreu-algum-parente-meu.
Porque eu fico olhando pra vida dessas pessoas – os gênios – e sempre tive vontade de perguntar pra eles se eles acham que vale a pena, serem gênios. Porque olhando assim de longe, eu fico com a sensação de que deve ser muito difícil, sabe. A impressão que dá é que eles não pertencem, não se encontram, não são felizes. Que não foram feitos pro nosso mundo, não entendem a nossa sociedade.
Acabam levando a vida solitários, tentando lidar da forma menos insana possível com o absurdo de tanto exagero ao redor. Sucesso, dinheiro, poder, idolatria, oportunismo, vício. Numa busca incessante por alguma forma de plenitude e sossego que nunca alcançam.
E a gente também não ajuda. Eles vêm, nos tocam e nos influenciam de tal maneira, e retribuímos perdendo o bom senso e muitas vezes o respeito. Não os deixamos respirarem, entramos numa perseguição doentia alimentada pela curiosidade sórdida, pela sede de qualquer tipo de notícia que nos aproxime ainda mais deles. Porque fazer parte tão importante do nosso dia-a-dia através da arte aparentemente não é o suficiente. E assim acabamos nós também contribuindo pra perpetuar o pior.
E é por tudo isso que eu sempre quis saber a resposta deles.
Porque agora eu olho pra todas as manifestações de carinho e gratidão. Olho pra história da cultura pop e da música, das quais ele indubitavelmente é ícone. Vejo o quanto ele marcou toda uma geração. E acho que vale a pena.
Mas aí eu vejo o sorriso daquele menininho negro com um talento tão imenso que já não cabia nele. E comparo com o rosto branquérrimo e deformado dos últimos anos, emanando fragilidade e um peso que também parecia que já não cabia mais nele. Aí eu assisto às pessoas desoladas prestando homenagens tão bonitas em cada canto do globo, enquanto muitas manchetes giram em torno do tal exame toxicológico e das polêmicas da custódia das crianças e das dívidas.
E então eu me pergunto se vale a pena. Se é um preço que compensa ser pago.
No fundo, assim numa esperança egoísta, eu gosto de pensar que ele me responderia que sim.
"Sim, Mariana. Apesar de não ter tido infância, de ter sido explorado e traumatizado pela minha própria família, de ter vivido com uma angústia constante, de ter enlouquecido no meio de tanta grandeza. Apesar de mesmo agora que morri, pessoas estarem mais preocupadas em saber detalhes mórbidos da minha autópsia e em discutir aspectos médicos da minha morte do que em comentar sobre o meu legado e sobre meus projetos sociais. Apesar de tudo isso, vale a pena nascer gênio. Eu gostei de ter passado por aqui, gostei de ter sacudido um pouco as coisas e ter feito história. E pelo menos por alguns momentos, cheguei a ser feliz."
Farewell, Michael. 'Brigada. O que seria da gente, sociedade, sem vocês gênios pra continuarem nos encantando/influenciando/mudando/chocando sempre? Uma pena que o preço costuma ser tão estratosférico quanto o talento de vocês. E infelizmente, ninguém - nós, a família, os amigos, ou vocês próprios - faz a mea culpa. Muito menos reflete e aprende com os excessos cometidos.