quinta-feira, junho 25, 2009

Girl talk ...

Daí que hoje em dia elas se vestem um pouco diferente de meados dos noventa, de como quando era com ela. Os hábitos e a linguagem também mudaram um tanto.

Mas muito permanece. O objetivo de aparentar anos a mais. Aquela coisa do parecer despojada.

Hoje tem mais maquiagem, os óculos-intelectuais-de-aro-grosso, o All Star xadrez, o jeans justo com as camisetas.

Mas continua o querer emanar subversão, o querer destoar, a ânsia do ser diferente.

Tentando disfarçar as inúmeras trocas de roupa em frente ao espelho até chegar na escolhida. E o desejo urgentíssimo de pertencer, de experimentar, de se expressar e ser notada.


E elas estavam lá. Num grupo enorme. Posando pra fotos em todo e qualquer cenário minimamente diferente do shopping. A tecnologia agora tá aí, em todos os lugares, nas mãos de todo mundo. Na época dela não tiravam tantas fotos, só em ocasiões especiais. Agora as câmeras estão acopladas a tudo, documentando passeios com caras-e-bocas e gargalhadas desprendidas, daquelas que só adolescentes conseguem ter. Quem disse que não era uma ocasião especial? Era sim. Nessa idade sempre é.


Pelo jeito, o orkut hoje vai bombar de atualizações de fotos – disse pra ele, depois de cruzarem pela terceira ou quarta vez com as meninas pelos corredores. Chamou sua atenção uma específica. Loirinha, camiseta do Nirvana, olhar de alguém que parecia entender muito mais do que dezessete anos de vida. Fitaram-se por alguns instantes, e então cada uma continuou seguindo seu caminho.


Mais tarde, um quinto encontro inesperado. Reconheceu o Kurt Cobain refletido através do espelho. Soluçando, lágrimas pretas, tentando inutilmente enxugar o rosto que parecia nunca secar.


- Queria pular logo pra parte em que a gente encontra o cara certo pra passear de mão dada. E pára de discutir e chorar em banheiros públicos.

- Se quiseres, a gente troca. Aí tu é quem fica com o posto de pior ser do universo. Porque tem o gracinha pra andar de mão dada, enquanto silenciosamente sente é falta de quando te fazem sentir o suficiente pra poder discutir com eles. E sonhar o suficiente pra poder chorar por eles.


Parou por um instante, assoou o nariz, e disse bem séria.


- A gente, mulher, nunca vai ficar satisfeita, né?

- A gente, humano, acho que não.


Mais um silêncio, ambas com faces pensativas, longe dali, como se processando aquilo tudo.


- Mas sabe, moça, não quero chegar na parte em que a gente pára de acreditar que é possível.

- Eu também não, menina. Eu também não.


E então elas sorriram – daquele jeito desprendido e delicado que só sonhadoras conseguem fazer, e voltaram pra flashes e braços seguros.



"Il y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente."