terça-feira, setembro 09, 2008

Violet Hill ...

Todas as coisas que eu queria escrever e não posso, porque não consigo, me torturam todos os dias. Não toca nas minhas memórias porque eu viro bicho. Tudo está tão guardado em mim que às vezes penso que eu mesma sou só reminiscência do resto.
Eu não esqueço nada. Sou completamente mapeada por cheiros, toques e música. Guardo todos os que aqui tiveram e não deixo ninguém ir embora.
É físico, quase crônico. E tenho medo de escrever. Porque quando se é colocado pra fora e vira letra, é documento. E eu ando com dificuldades de assumir até para mim mesma.

A verdade é que desde que decidimos que nossos caminhos não são mais compatíveis, eu ainda o procuro pela cama. E às vezes me dá uma saudade sufocadora de todo o caos que vinha junto daquele não saber lidar. E é nesse momento em que eu grito, choro, esperneio, escrevo, penso em dez desculpas fajutas para ligar e ouvir a voz dele de novo. Mas depois lembro que sinto saudades é da cama e do sentimento que eu nunca soube controlar.
Deixo de lado. Esqueço. Entendo.

Está tudo bem, babe. Só dói quando eu mexo. Se eu esqueço que ele está ali, eu passo os dias de forma normal, e nada demais acontece. Às vezes é que incomoda, e machuca, e eu lembro. Deve ser assim com todo mundo. E até que para uma menina como eu, a dor é suportável.
Lembro de todas as minhas marcas e cicatrizes - internas e externas – e dos tombos – a maioria na idade adulta - e penso que até agora eu me saí bem. E fico pronta pra outra.
É mais uma marca para se olhar com carinho. E não é disso mesmo que somos todos feitos?

Já faz algum tempo em que me assumi dependente química de açúcar e de amor. Cortar os doces e o refrigerante é sempre mais fácil. Mas com o amor, a vulnerabilidade é de espantar a psicologia.
Pois numa crise de abstinência de carinhos gratuitos. Daqueles de pessoas especiais, sem hora ou lugar ou grandes cerimônias. Aí é que eu resolvo desenterrar tudo o que eu já tinha tirado do corpo e da casa. E por mais que não me falte nada, eu sempre arranjo do que reclamar.
Na verdade o que eu tenho que me livrar é dessa compulsão bizarra pelo eterno friozinho na barriga. Os doces nunca me fizeram mal.

(Adaptado de Paula Gicovate)