sexta-feira, novembro 16, 2007

Sobre fitas, laços e mergulhos ...

Arrebentou. Dezenas de meses depois. Quando eu já tinha me acostumado, já tinha virado parte de mim. Em pensar que houve épocas em que eu ansiava tanto por isso. E ultimamente eu andei evitando e fugindo do pensar sobre o assunto tanto quanto andei fugindo deste blog.

Porque eu sempre penso demais, sempre conjecturo demais, e com isso as chances de idealizar e de me decepcionar são sempre maiores. Aí eu gosto de fazer de conta que consigo ser uma pessoa carpe diem, e ir simplesmente vivendo, um dia após o outro, sem tentar adivinhar/imaginar/esperar seja por acontecimentos futuros, seja por reflexos futuros dos acontecimentos presentes.
E até que consigo esse faz-de-conta por um período de tempo. Mas eis que existem as visitas inesperadas, os escritos que me desmontam, a foto no orkut que eu preferia não ter visto, os sentimentos alheios, e as minhas palavras (ou o meu silêncio) mexendo com esses sentimentos ...

Já faz algum tempo que eu discordo da tal raposa d’O Pequeno Príncipe. Esse fardo do tornar-se eternamente responsável por algo que você um dia cativou é injusto, chega até a ser cruel.
Primeiro porque as atitudes das pessoas que encantam tomam em nós uma proporção infinita e exageradamente maior do que realmente têm, pelo simples fato de termos sido cativados. E segundo, que acho humanamente impossível não magoarmos alguém quando há desencontro/despareamento de planos, expectativas e sentimentos; não importa o quão atencioso sejamos, ou o quanto nos importemos.

E é por isso que me incomoda deveras ter essa “obrigação” explicitada por outrem. Já me bastam a preocupação e a culpa absurdas que eu coloco em mim mesma. Não sou o tipo de pessoa que trata sentimentos alheios levianamente. Mas também não consigo não ser sincera (às vezes exagero, assumo), e não consigo não seguir meus impulsos toda vez que eles mexem comigo com tamanha intensidade.

Por um tempo eu achei que estava num dilema, que era uma questão de escolher a porta número um ou a porta número dois; sem que qualquer que fosse a escolha eu deixasse de escolher a mim mesma no processo. No fim das contas, estou achando que só tem é uma porta realmente aberta e disposta nesta história toda. Sinto-me até um tanto boba por ter acreditado e até sofrido com a suposta existência de um dilema.

É fato que joguinhos me cansam, e que quanto mais tentam me prender forçosamente, mais eu fujo. Mas o desistir sem sequer ter começado direito me entristece. Climinhas pesados e silêncios por orgulho besta me desanimam. E eu me recuso a deixar que façam com que eu me sinta ainda mais culpada do que já me sinto por estar tentando tomar uma decisão honesta sobre a minha vida.

A questão é que preciso ver onde dá, preciso continuar vivendo as coisas todas enquanto elas existem, entende? Eu sei lá o que acontece, quanto dura, se muda, etc. e tal. E se o irremediável destino final for eu quebrar a cara e ter de juntar caquinhos mais uma vez, que seja.

Porque quando eu escolhi ficar para me poupar, a dúvida do nunca-saber-como-seria foi uma das piores sensações que já tive na vida. Não é daquelas dores lancinantes de decepções que, de tempos em tempos, fazem com que nos sintamos vivos. É daquelas latentes, crônicas e silenciosas, que vão matando devagarzinho, lentamente como já dizia Neruda.

Então toda vez que algo forte me chamar, se mostrar disposto, e der a cara pra bater junto comigo, eu decidi que vou. Com um tanto de receio sim, daqueles que se tem diante de tudo o que é incerto. Mas pra viver os tais dos momentos-pra-sempre, a gente acaba tendo que dar/arriscar algo em troca. E se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria. Isso pra mim é viver.

"Chegue bem perto de mim.
Me olhe, me toque, me diga qualquer coisa.
Ou não diga nada, mas chegue mais perto.
Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada...
Daqui a pouco você vai crescer e achar tudo isso ridículo.
Antes que tudo se perca, enquanto ainda posso dizer sim, por favor chegue mais perto.
Porque a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem ..."