sexta-feira, agosto 31, 2007

Sonho impossível?!

Acredito que toda vez que se tem um objetivo, é sempre muito importante ter clareza do porquê de se acreditar nele e lutar pelo mesmo. Tem que ter também aquele quê de paixão, que te move, que te faz ter forças e vontade pra realmente ir atrás daquilo, mesmo com todos os possíveis e imprevisíveis obstáculos pelo caminho.
Mas não se pode nunca subestimar a importância da estratégia utilizada pra se conseguir o que se almeja, porque ela faz sim toda a diferença. Por causa de estratégias (ou da falta delas), exércitos numericamente maiores e considerados mais capacitados foram historicamente derrotados e humilhados.

Não estou aqui dizendo que os fins justificam os meios, que tudo vale em prol de um objetivo considerado nobre, longe disso! Não é de qualquer forma não. Nunca devemos perder de vista os nossos pilares de ideologia e de princípios éticos e morais.
Mas há momentos em que é preciso guardar um pouco mais o que a gente quer dizer e/ou fazer pra soltar na hora certa, ou então soltar de forma mais amena, gradativa e inteligente.
Porque em se tratando de certos assuntos (e política é um deles), sondar a conjuntura atual é fundamental, e ao vociferar escancaradamente deslegitimações e diferenças nas concepções de sociedade e de democracia - que facilmente descaem para receber em troca argumentos vazios, lavagem de roupa suja inter-gestões e ofensas estritamente pessoais - não estamos fazendo nada mais significativo do que provar o quanto ainda nos falta nos quesitos planejamento e análise prospectivos.

Cabe enxergarmos além da parte em que discussões acaloradas sobre temas extra-festas são estimulantes e nos impulsionam; cabe enxergarmos além da parte em que o sangue sobe e fica difícil não deixar barato certos tipos de afirmações mentirosas sobre os fatos feitos por eles e sobre aqueles feitos pela gente; cabe enxergar além de mais uma oportunidade de colocar pra fora grande parte do que incomoda, do que tá engasgado já faz tempo, e parece que o restante das pessoas não percebem (ou pior: percebem e não se incomodam).
Já que ao fazer isso naquela situação (e da forma como foi), não trouxemos benefícios muito relevantes (só um desgaste ainda maior da pouca abertura e da imagem arranhada que temos para com eles), e em troca perdemos uma chance de ganhar a atenção de pessoas novas por alguns momentos, e de então quem sabe, não conseguir fazer germinar alguma sementinha de idéias diferentes das tradicionais-pífias que tanto imperam no nosso cotidiano.

Porque não se pode considerar um ponto bem-sucedido e positivo quando se ganha algo que já estava ganho (tacitamente, mas já ganho) e que já destoava desde o princípio do acontecido. Mas com certeza se pode considerar negativo quando se perde qualquer chance de conversa frutífera com um grupo de pessoas interessado de alguma forma num centro acadêmico (o que já é tão raro por lá).
Pode ser sim que esse grupo pudesse acabar sendo refratário da mesma forma que foi mesmo após a possibilidade de conversa, mas nem haver essa possibilidade de sondagem, sei lá, é primário demais pra quem clama ter a clareza e o bom-senso que a gente clama que tem.

Como querer contribuir pragmaticamente para mudar uma sociedade, se nem tentar disputar indivíduos como cidadãos a gente anda conseguindo fazer de forma eficaz no nosso dia-a-dia? Tudo bem que não é lá uma base super simples de se disputar e com a qual se trabalhar, mas convenhamos que a sociedade brasileira não é muito mais fácil do que isso.
Será que não vale a pena - ao invés de começar já chegando na jugular - tentar começar de mansinho, ganhando a atenção da galera, fazendo com que ela se identifique com alguns pontos mais brandos do que você está dizendo, e aí então que ela pare para ouvir (e analisar) todas as críticas e contestações que temos ao status quo?

Se a nossa não-reeleição não nos ensinou a ser mais humilde e menos pós-moderno, a ter tanta auto-crítica quanto crítica a terceiros, a nunca subestimar atores sociais (disputando todo e cada um), a rever nossas estratégias, e a entender a importância dos "meios" e sua relação intrínseca e essencial para com os fins (incorporando isso nos projetos) ... se a nossa não-reeleição não nos ensinou a nos equilibrar melhor nessa corda-deveras-bamba - que é a do ter coerência com nossas filosofias e ter práxis política sem perder por completo a legitimidade per se e a sensação desta por parte dos estudantes - se não avançamos pelo menos um pouco nessa arte, então nós não aprendemos o suficiente.

Como eu havia dito antes, é tudo uma questão de objetivos. A gente pode continuar discutindo, problematizando e lutando dentro das esferas (sejam locais, sejam nacionais) de pessoas que já pensam diferente e como a gente. E é tudo muito válido, estimulante e bacana, sem dúvida.
Eu só achei que o objetivo (objetivo este no qual não acreditava muito e fui convencida a mudar de idéia, inclusive) era o de disputar o diferente, e a partir do dissenso gritante, tentar fazer despertar e construir coletivamente uma mudança de realidade.
Lógico que este é infinitamente mais difícil e até um tanto utópico. Mas eu não duvido sequer por um momento da capacidade e do "sangue nos zóio" que existem aí pra vencer o invencível. E eu não esperaria nada menos vindo da gente.

"Sonhar, mais um sonho impossível.

Lutar, quando é fácil ceder.

Vencer, o inimigo invencível.

Negar, quando a regra é vender.

Sofrer, a tortura implacável.

Romper, a incabível prisão.

Voar, num limite improvável.

Tocar, o inacessível chão ..."