segunda-feira, junho 11, 2007

Unwritten, unspoken, undone, unhappy ...

Toda vez que a gente cala, a gente perde um pouco.
Perde uma chance de nos conhecermos um pouco mais, de fazermos um pouco mais, de transformarmos um pouco mais, de colocar para fora um pouco mais da gente - para o mundo e para nós mesmos.
E eu andei calando demais esses últimos tempos.
Às vezes por comodismo, outras por defesa, algumas por arrogância, e até por egoisticamente querer guardar só para mim alguns sentimentos e acontecimentos recentes.

É tão mais fácil calar, sabe.
Você vê pessoas ao seu redor gritando e fazendo absurdos, e discorda totalmente, mas julga serem elas as acomodadas e as não dispostas a ouvir, e então você cala.
Você sente saudades e vontade de ter notícias, mas espera passar, e cala.
Você tem a chance de realmente fazer parte de algo transformador e bacana, mas tem o frio e a garganta inflamada, então você não vai, e cala.
Você percebe que tem gente precisando mesmo ouvir certas coisas, mas dói ouvir certas verdades, aí você quer poupá-los e se poupar, e cala.
Você tem a total consciência de que está mais do que na hora de mudar e de se posicionar oficialmente frente a uma série de questões, mas o definitivo e o dar a cara a bater dão medo, aí você adia, e cala.
Você anda sentindo uma enxurrada de coisas diferentes, mas disfarça, relativiza, não assume, e cala.

Só que o caminho mais fácil não necessariamente é o melhor, aliás, ele quase nunca é o melhor. E todo esse guardar aqui dentro, todo o não verbalizar, o esforço para não pensar no assunto, tudo anda angustiando por demais. Vale mesmo a pena perder tanto e desgastar-se tanto nesse tipo de desespero?
Daqueles que se tem quando a gente se sente censurado, quando não nos sentimos nós mesmos, quando parece que há uma espécie de filtro seletor entre quem realmente somos e quem mostramos ser para o mundo. É a solução simplista e preguiçosa de quem não quer arriscar perder aquilo que já tem.
Só que cansei dessa angústia que vinha perdurando por semanas. Agora eu quero é falar, contar, opinar, pensar, e gritar. Não importa se eu não vou ser sempre compreendida e correspondida. Não me importa se eu vou ser julgada ou mal-interpretada. Eu preciso dizer.

Dizer o quanto revolta e me envergonha em inúmeros aspectos a minha realidade política-pedagógica-institucional acadêmica, e o mal-estar que dá por eu ainda não saber como contribuir para modificá-la de forma eficaz.
Preciso assumir o quanto certas relações ainda me desequilibram, cada vez menos e em intervalos cada vez maiores - é fato. Mas eu ainda não consegui me desvencilhar totalmente, nem pronunciar o tal adeus definitivo que já existe aqui dentro.
Dizer o quanto tem gente que anda precisando sair da redoma de vítima, reclamações e tristeza, e finalmente se posicionar e fazer; porque quando a gente ganha o posto de amigo, tem a responsabilidade de falar o que mais ninguém falaria, mesmo que machuque um tanto - tanto você quanto eles.
Dizer que eu preciso sair da minha inércia de adiar coisas que não me estimulam, e começar a tomar certas decisões sobre minha vida profissional, mental e pessoal, ao invés de ficar arrastando e carregando pesos e dúvidas desnecessários.
Confessar que eu ando sentindo e vivendo amorosamente nesses últimos tempos mais do que já vivi em alguns anos da minha vida. E que meu affair-não-namoro-à-distância está revolucionando todos os meus conceitos sobre o estar bem, querer bem e experimentar coisas novas.

Há uma linha tênue entre o estar vulnerável e o estar aberto. E esse se expor do estar aberto, do estar disposto a ir atrás de mudanças, traz um feedback e um bem-estar difícil de se explicar e de se conseguir de outra maneira. Traz também possibilidades infinitas de experiências e pessoas novas, e do aprender e apreender com todos esses inéditos.
Engraçado como a vida sucessivamente dá voltas.
Há exatamente um ano, eu estava com dilemas tão parecidos com estes de agora, com uma pequena diferença: antes eu me abstive e tentei inutilmente me proteger, agora eu acredito saber o que fazer deles, ou o que tentar fazer deles; já que tentar fugir só adia o inevitável do ter que lidar com a situação depois.
Agora, eu procuro "pró-agir", assumir e tentar enfrentar as conseqüências do incerto.

Porque quando a gente já sofreu demais, sabe que suporta passar pelas fases ruins que parecem intermináveis, e que "the sweet is never really sweet without the sour".
E quando a gente já viveu o mais, aprende a não se contentar com o menos nunca mais, e enfrenta muito mais em busca dele - ao invés de deixar que as oportunidades passem por você.
Porque se tem um "demais" e um "mais" que são bastante difíceis de se lidar e de aceitar, e que é preferível se evitar a todo custo, são aqueles acompanhados por advérbios dissilábicos, pequeninos porém devastadores: o "tarde demais", e o "nunca mais".
E esses, a gente encontra cada vez menos pelo caminho toda vez que resolve levantar a bunda da cadeira, virar a mesa quando está infeliz, e fazer algo para modificar a realidade.


"Every passing minute is another chance to turn it all around …"