terça-feira, abril 24, 2007

Todo carnaval tem seu fim?

É, eu sei: a vida não pára, mas necessita de pausas.
Trata-se do não fazer algo (ou continuar fazendo esse algo) simplesmente porque alguém disse que tem que ser feito assim, ou porque os outros esperam que seja feito assim; e sim porque você vê algum sentido em fazê-lo, porque ele vai te acrescentar e preencher de alguma maneira, seja no presente, seja a curto ou a longo prazos.
É o não se deixar levar por inércia. É o questionar-se de tempos em tempos. É o estar aberto a redirecionamento de rotas e de caminhos que não estejam mais cabendo e que não estejam mais alimentando os tais desejos da alma.

Se tem uma coisa que definitivamente não é bacana de se fazer é o fazer exclusivamente por obrigação. É preciso sentir, é preciso encantar-se, aquilo tudo precisa pulsar aqui dentro, precisa ser daqueles desejos maiores que se refletem tão escancaradamente nos olhos que eles até mudam de cor.

Há semanas atrás, eu cheguei a repensar se era mesmo medicina o que eu queria.
Cheguei a conjecturar sobre o porquê dessa inquietação, desse desânimo e desse incômodo tão gritantes; daqueles que, por mais que você tente, você não consegue disfarçar nem com o sorriso amarelo mais ensaiado no rosto em frente ao espelho.
Até que a neblina do desassossego baixou e só me fez reiterar as certezas que eu há tanto tinha e que tanto espalhavam flores pela estrada.

Esse processo todo é cíclico. De tempos em tempos, estamos nos dando pausas, traçando e re-traçando planos, finalizando e reiniciando ciclos em todos os diversos aspectos da vida.
Porque o requestionamento é sempre válido, a reafirmação de sonhos e vontades é sempre enriquecedoramente impulsionante, e a descoberta de novos mundos – por detrás das rachaduras das paredes do que você achava que era tudo e que era o máximo – pressupõe momentos antecedentes de reclusão, solidão, desconstrução, e muita análise.

E agora são ELES que estão precisando “recessar”, assim intransitivo, assim por tempo indeterminado.
E logo nos primeiros segundos após saber da notícia, deu foi raiva, deu foi vontade de maldizer e gritar coisas daquelas que a gente se arrepende minutos depois ... instintos típicos de quando pessoas muito queridas acabam por se afastar devido a todas essas coisas da vida sobre a quais temos pouco ou nenhum controle.
Aí a gente recupera um pouco o fôlego, a calma, a racionalidade, e lembra que a felicidade de quem a gente gosta é tudo o que importa; mesmo que essa felicidade acabe culminando na nossa própria infelicidade.
Mas será que é infelicidade?
Só dá um vazio porque marcou deveras. Só dá aquele apertozinho porque foi é absurdamente bom, e transcendente, e edificante, e preenchedor.
A gente tem a terrível e agoniante mania de não querer soltar nunca tudo o que nos faz/fez bem.

E mais uma vez taí a vida me mostrando a beleza que existe na leveza, no esperar, no incerto, nas surpresas pelo caminho.
O amor (assim genérico) devia ser uma coisa simples, não acha? E já faz um tempinho que eu decidi descomplicar isso no meu dia-a-dia.
O amanhã? Pode ser que ele me esmague, pode ser que ele me eleve ... mas o não-saber, pra mim, não é mais um problema.
A gente deixa livre, e vive, e se encontra, e deixa que os outros se encontrem também, pra quem sabe então não reencontrar? Ou encontrar com novos e reinventados tão raros quanto.

E ficam as coisas boas, sempre.
Ficam os momentos de epifania e descobertas com letras novas e com letras lidas pela milésima nona vez. Ficam as lavagens de alma e de corpo ao cantar a plenos pulmões seja em shows particulares ou públicos.
Fica o dançar espalhafatoso e nonsense ao som das melodias que tocam fundo. Ficam os sorrisos largos ao reconhecer acordes pelas ruas, estabelecimentos, transportes, festas, e rodinhas de violão.
Ficam as indiretas via nicks do MSN. Ficam as lembranças de momentos inefáveis embalados por tantas daquelas canções.
Fica a sensação sublime e inexplicável de reconhecer-se tanto, de ver-se tanto nas palavras, que não fossem deles, seriam minhas – e muitas delas, eu já sinto como minhas.

Se as despedidas são momentâneas ou não, eu não saberia dizer.
Em se tratando de muitas, eu ainda estou a descobrir se são adeuses ou até-breve’s.
O que eu posso e quero dizer - a eles e a todos os outros meninos especiais da minha vida - é algo como:
Cuidem-se. Sigam seus caminhos. Sejam felizes. Encontrem-se. Que eu vou estar fazendo o mesmo. Se, nas incongruências desses caminhos, a gente acabar se cruzando algum dia, um tanto melhor, eu seria imensamente grata. Se não, já tenho lembranças queridas, já valeu a pena, vocês são queridos, e isto permanece independente de qualquer coisa.




"É bom, às vezes se perder sem ter porquê, sem ter razão.
É um dom saber envaidecer por si, saber mudar de tom.
Quero ver você maior, meu bem.
Pra que minha vida siga adiante.
Quero não saber de cor, também.
Pra que minha vida siga adiante.
Adeus vocês ..."

"Só levo a saudade, morenos. É tudo o que vale a pena ..."


(E eu nunca quis tanto ser carioca pelos dias 8 e 9 de Junho como agora)