sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Momento epifânico numa noite de insônia ...


"Retrovisor é passado.
É, de vez em quando, do meu lado. Nunca é na frente.
É o segundo mais tarde ... próximo ... seguinte.
É o que passou e, muitas vezes, ninguém viu.

Retrovisor nos mostra o que ficou, o que partiu.
O que agora só ficou no pensamento.
Retrovisor é mesmice em dia de trânsito lento.
Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal-resolvidas.
Mostra as ruas que escolhi, calçadas, e avenidas.

Deixa explícito que, se vou pra frente, coisas ficam para trás.
A gente só nunca sabe que coisas são essas ... "


Lembranças ... daquelas que ficam adormecidas, guardadas a sete-chaves, naquele canto escuro e empoeirado de nós mesmos. Por dias, semanas, meses; sem que sequer lembrássemos direito que elas estavam por lá.

Eis que em momentos específicos, quando a gente menos espera, tal qual o dia de hoje; as tais das lembranças não se limitam a ficar no espaço que lhes fora reservado (cedido a muito custo, eu diria), e invadem, avassaladoramente, derrubando tudo o que vêem pela frente ... inclusive eu mesma.

Acontece que não há porquê em continuar numa guerrilha solitária, onde o único prognóstico é o desgaste. Não há porquê em tentar entender, além das fronteiras da sanidade, que coisas são essas que ficam para trás.
Lembranças que aquecem a alma são sim raras e merecem ser cultivadas; mas no momento em que elas ficam à frente e não ao lado, deve-se parar para cogitar a possibilidade de "over-cultivo".

Algumas mudanças, a gente começa nos atos e nos discursos; no coração, é pura consequência.
E eu suspeito que a hora da consequência nunca esteve tão perto ...