quarta-feira, novembro 15, 2006

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, até quando o corpo pede um pouco mais de alma ...

Há coisas nesse mundo que ninguém pode fazer por nós mesmos. Não me entenda mal, eu não estou subestimando a importância dos amigos, familiares, companheiros ... longe de mim! Até porque, confesso que, se tem alguma imagem que me assusta em relação ao futuro, é a daquelas senhoras que acabam sozinhas em suas casas, com seus 381 gatos, vivendo sua vidinhas, na mesma rotina há anos, saindo de casa basicamente para necessidades básicas de sobrevivência, sem amigos, sem aquele alguém pra conversar, pra contar o dia, pra sair, ou até mesmo pra discutir.

Eu não tenho muitos receios em relação ao futuro ... tudo bem se eu não ganhar financeiramente tanto quanto eu gostaria, eu sobrevivo se eu não encontrar o cara perfeitamente imperfeito pra envelhecer junto, tudo bem se eu não conseguir fazer todas as viagens que eu sonho, nem tiver o apê ideal com a TV de mil canais de filmes e a geladeira lotada de porcarias; mas, se eu não puder trabalhar no que gosto, e se eu não tiver pessoas queridas com quem possa contar e com quem possa dividir, isto sim me apavora.
Não que seja impossível viver fazendo algo que não te estimule, ou sem realmente conectar-se, dividir-se e encontrar-se com ninguém; dá pra levar a vida de várias formas, e a gente vê mil exemplos vivos diferentes todo dia. A questão é que, para mim, passar pela vida assim simplesmente não vale a pena; e, definitivamente eu não quero chegar ao fim da estrada, olhar pra trás e chegar à conclusão de que não valeu a pena.

Por outro lado, eu também prezo muitíssimo pelos meus momentos sozinha comigo mesma. Vou além, eu necessito destes momentos. Seja sentada no metrô/ônibus voltando pra casa no fim do dia, seja deitada na cama ouvindo música antes de pegar no sono, seja tomando banho: tais horas de desligar-se do resto do mundo, somente com meus pensamentos, sonhos e sentimentos são muito importantes e me fazem um bem enorme. Parece que se eu não as tiver, eu não consigo processar direito todas as experiências, não consigo entender-me por completo. São em tais horas que eu tenho as epifanias mais reveladoras, e que chego às decisões mais cruciais.

Nestes últimos dias, eu estava meio injuriada com algumas pessoas. Porque eu havia tentado convencê-las de todas as maneiras possíveis e imagináveis de algo que, diante dos fatos, era absurdamente óbvio de ser percebido e de ser concluído pra quem quer que seja. E elas, apesar de todos os argumentos e provas, continuaram negando-se a aceitar, e negando-se a tomar providências em relação a este algo.
Até que então, parando um pouco mais para analisar, quem não estava vendo o óbvio era eu mesma. Quantas vezes já me falaram, e repetiram, e me mostraram, e repetiram mais uma vez, e eu não vi. Ouvi, mas não entendi; às vezes, nem sequer dei ouvidos.

São aquelas coisas que ninguém pode fazer por nós mesmos. Por mais que nos mostrem, nos orientem, fiquem ao nosso lado, escrevam em letras gigantes piscando em néon ... enquanto nós mesmos não nos convencermos, enquanto nós mesmos não entendermos, enquanto aquela lampadinha não acender naquele momento epifânico e tudo começar a realmente fazer sentido, enquanto a gente não sentir de verdade e aquilo tudo não pulsar forte dentro da gente, não adianta.
Cada um tem seu próprio tempo de descobertas, e a única certeza que eu tenho e que me acalma, é que não existe hora “certa”, existe a hora em que ele chega. E ele sempre chega. Pra abrir os horizontes, esclarecer, iluminar, pra tudo fazer sentido, pra forças que a gente nem sabia que tinha brotarem e fazerem-nos tomar atitudes antes inimagináveis.

Não adianta puxar ninguém à força para o outro lado do espelho. O sublime é ir com os próprios passos pro País das Maravilhas. E este país pode ter vários nomes: Aprender a não ser dependente de alguém-Unidos-da-América, República Federativa do saber dizer não, União do enxergar o mundo além-próprio-umbigo, Federação do perceber que política não é qualquer coisa, Reino Unido do manter a amizade depois de um pé-na-bunda, Comunidade do finalmente cair a ficha de que você gosta a sério de uma pessoa e lutar por isso.

Continuemos então fortalecendo a Alice dentro de cada um e trilhando o caminho pra nossa Wonderland do momento; porque faltando pouco para alguns, muito para outros ... para todos, sem exceção, ela está cada vez menos distante.