sábado, maio 24, 2008

Pr'um bar, beber, discutir, divagar ...

Aí que pela terceira vez na semana a conversa de bar te dou uma cirrose? acabou chegando ao famoso clichê dos relacionamentos, traição e do suposto mito da monogamia.
O engraçado é que por mais que eu sempre tenha convivido muito com garotos e já tenha ouvido diversos tipos de relatos femininos sobre os mais diferentes assuntos "polêmicos", eu nunca realmente entendia porque certas opiniões sobre esse assunto em particular me incomodavam tanto.

A princípio eu cheguei a achar que na verdade o que me incomodava era a questão da traição, e que eu tinha valores morais fundamentados na monogamia.
Porque me tiravam do sério as discussões onde os argumentos eram sempre os de que geneticamente o ser humano é um animal fadado à poligamia; de que a idéia de casamento e compromisso é um conceito cruel, antiquado e imposto pela Igreja de modo a garantir a procriação em torno de uma concepção irreal da definição de família; que tal ideal nada mais é do que reflexo de sentimentos egoístas como posse e ciúmes que acabamos irremediavelmente cultivando nas nossas relações; e que as pessoas realmente coerentes e respeitadoras de suas vontades e instintos são aquelas que assumem e realizam seus desejos toda vez que estes aparecem.

Acontece que eu não acredito na idéia do amor “romântico” para todo o sempre que nos completa e preenche de todas as maneiras possíveis. Tampouco que a gente só realmente gosta de alguém quando não tem mais interesse algum por qualquer outra pessoa, nem sente vontades, tem pensamentos libidinosos ou qualquer tipo de atração por outrem.
Muito menos meu ideal de relacionamento é aquele onde exista 100% de sinceridade e trocas sobre cada pequena coisinha que nos passa à mente, onde uma mentira e/ou omissão descobertas sob certas condições seriam inquestionavelmente imperdoáveis e determinantes para o término do mesmo.

Sempre defendi que relacionamentos são válidos desde que haja respeito e façam bem às pessoas envolvidas, e que ninguém melhor do que elas - as que fazem parte do relacionamento - decidam e acordem o que bem entenderem em relação aos diversos aspectos que o permeiam. E que tais acordos variam tanto em relação às pessoas, quanto a conjunturas e momentos de vida diferentes de uma mesma pessoa.
Mas então o que é que incomoda tanto quando ouço amigos e desconhecidos fazendo certos tipos de comentários em bares e festas? Por que é que eu tendo a julgar negativamente posturas e comportamentos independente de haver ou não traição? Se eu vivo dizendo respeitar as diversas concepções existentes, por que é que eu me indisponho com algumas? Será que eu não estou sendo hipócrita e, no fim das contas, fico querendo impor a minha visão atual como a correta frente a todas as outras?

Eis que fiquei intrigada e percebi que o que na verdade me perturba não é o tipo de relação de tal e tal casal, nem os diferentes acordos entre eles, ou qualquer outra convicção pessoal sobre o que seria mais "correto" ou não. Percebi que o que me angustia em falas e comentários é o quanto as relações acabam sendo banalizadas, sabe.
Não vou ficar aqui moralizando ou defendendo que toda interação de cunho sexual-amoroso entre dois seres tenha que estar sempre envolta de sentimentos realmente puros, profundos e super significativos. Affairs, casinhos, relacionamentos abertos, e ficar por ficar são também praticados e considerados válidos por esta que vos fala.

No entanto, fica difícil evitar um certo pesar e um tanto de tristeza quando percebo que pessoas que estão juntas, ou que estiveram juntas - e dividiram momentos e segredos e intimidade considerável - referem-se e tratam umas às outras com tal desprendimento e indiferença de me causar espanto.

Espanto daqueles que dão quando nos deparamos com uma realidade totalmente diferente da nossa, e que custa a fazer sentido. Pode me chamar de romântica, boba, idealista, whatever, mas por mais que eu nem sempre esteja loucamente apaixonada, eu não consigo estar em uma relação não tão efêmera e aleatória com alguém sem nutrir um certo carinho, afeição e respeito.
Porque pra mim elas sempre acabam acrescentando e significando algo. Nem que seja puramente diversão e momentos bacanas numa determinada época, ou aquele empurrão final pra superar completamente resquícios de um outrem mal-resolvido. E eu muito as valorizo.

Sendo por isso que – com exceção dos caras com quem eu tenha ficado apenas uma vez na balada e nunca mais tenha visto - eu nunca vou me referir a ou lembrar de você, homem, que fez parte da minha história, que dividiu momentos e palavras e secreções corpóreas comigo, da forma leviana e despida de emoções e sentimentos que tantas vezes eu ouço por aí.
Independente se durou muito ou pouco, se ainda existe algum contato ou não, se terminamos numa boa ou com mágoas, se foi uma daquelas paixões arrebatadoras ou nem tanto, se fizemos planos para uma vida ou nem sequer para o dia seguinte ...

Vai ver eu sou mais careta e menos descolada do que gosto de achar que eu seja. Por mais blasé e sarcástica que eu me expresse tantas vezes em relação ao mundo, se tem algo que eu não consigo subestimar e encarar com imparcialidade e total desapego são as relações humanas, em especial as minhas relações humanas. Eu simplesmente não consigo sentir de outra maneira ...

"Sonhos, aventuras, juras, promessas
Dessas que um dia acontecerão (ou não)
Todos esses versos soltos, dispersos
No meu universo sempre serão
Palavras e lembranças do coração"