segunda-feira, julho 09, 2007

O acaso tem seus sortilégios, a necessidade não ...

“Nossa vida cotidiana é bombardeada de acasos, mais exatamente de encontros fortuitos entre as pessoas e os acontecimentos – aquilo que chamamos de coincidências. Existe co-incidência quando dois acontecimentos inesperados acontecem ao mesmo tempo, quando eles se encontram."

E houve uma co-incidência entre uma pessoa e um livro. Trezentas e cinquenta páginas que eu, imediatista e ansiosa que ainda sou, pretendia devorar em dias. Mas que devido a uma sucessão de acontecimentos daqueles sobre os quais a gente não tem lá muito controle, transformaram-se em três meses.

E transformaram-se em muito mais, transformaram-se numa espécie de metáfora pessoal. E é aquela coisa toda das metáforas pessoais que ultrapassa qualquer tentativa racional de entendimento.
Parece que no momento em que as páginas forçosamente foram rotuladas como tais, adquiriram tamanha responsabilidade e significado, que acabaram por naturalmente tomar as rédeas temporais da situação, e só permitiram que eu tivesse oportunidade de lê-las em momentos tão específicos e tão necessários que chegava a ser assustador tanta convergência de acasos.

"(...) Tomas não sabia então que as metáforas são uma coisa perigosa. Não se brinca com as metáforas. O amor pode nascer de uma simples metáfora."

Mariana também não sabia do perigo das metáforas. E delas nasceram não só amor, como entendimentos, descobertas, novos ares e sonhos.
Mas nem tudo foram e são flores, afinal, aquele que quer continuamente elevar-se deve contar ter vertigem um dia. Houve a necessidade de trabalhar muito o desapego e tudo aquilo que sou e sinto e não exteriorizo.
E dói mexer nas impossibilidades, dói mexer no que você não diz. Só que como lutar por possibilidades sem saber identificar as que precisam ser guardadas no momento? E como ignorar tanto se é exatamente o que você não diz que o define?

Até que acabou. Acabou o livro, o chocolate, a espera por uma resposta que me mostrasse algum indício de co-sentimento, a sensação de que todo o presente não passava de um trailler até que o filme da vida real e ideal de 2007 realmente começasse.

Até que ficou. Ficaram lembranças, cicatrizes, esperanças, e muitos sonhos e vontades. Vontades de viver cada vez mais os sonhos de agora, de ir atrás com mais afinco pelos ainda não alcançados, de buscar o milionésimo de dessemelhança em tudo o que encanta, e de acreditar ... de realmente acreditar. Não do jeito que a gente simplesmente diz da boca pra fora, mas daquele que a gente sente e pulsa de dentro pra boca, e que quando aparece, faz com que enxerguemos a borboleta grande de asas abertas e enfeitadas, enfeitadas por eles - os sonhos.

"Sonhos são como deuses: quando não se acredita neles, deixam de existir..." E arrisco dizer que também deixa-se de existir.