domingo, dezembro 23, 2007

As curvas no caminho ...

Eis que sou extremamente irônica, escrachada, faço comentários ácidos sobre tudo e todos, digo em tom de brincadeira coisas que a maioria das pessoas teria o bom-senso de não comentar. Essa é a parte óbvia que todo mundo vê.

O que não é todo mundo que percebe é como isto disfarça (para uns mais, para outros menos) o quanto eu ainda tenho de timidez e sensibilidade. Sensibilidade esta que quando despertada vira a maior do mundo, daquelas de fazer olho ficar lacrimejando sem que você queira, e você fica brava consigo mesma por isso.
Mérito das pessoinhas e causas que conseguem quebrar a casca blasé e tocar lá dentro.

Toda vez que isso acontece, eu não consigo não ouvir a tal da voz que fica dizendo aquilo tudo, e parece que não sossega enquanto a gente não extravasa e/ou age de alguma forma. E normalmente eu até consigo extravasar das maneiras usuais, mas tem momentos (e assuntos) que eu não consigo; aí surgem os textinhos emo nos meus blogs monotemáticos como válvula de escape.
Parece que quando você aperta aquele botão de publicar, a energia do que incomoda e do que você quer dizer se dissipa pra além do universo virtual, e você fica mais leve. Quando você pára pra tentar expressar o que tá sentindo ou quando você relê o que escreveu, rola todo um lance de compreender mais o que tá se passando, e uma clareza maior do que fazer sobre a situação. É minha auto-terapia.

Terapia que, no entanto, mostrou-se um tanto falha nessas últimas semanas. Eu tentei colocar pra fora. Mas parecia que tava tão intrínseco, tão grudado aqui dentro, que não saía de jeito nenhum. Colocaram em xeque muito daquilo em que eu acredito. Abalaram a estrutura dos pilares de valores e pessoas que eu sempre defendi com unhas e dentes.

Fácil ter sua caixinha de ideais e valores guardada no bolso e só usá-la quando é conveniente. Fácil acusar injustamente terceiros por fatos sem provas. Fácil utilizar do “senso comum” visando exacerbar a tendência a uma mentalidade escrota que já existe em determinado lugar.
Difícil foi eu ver, na práxis, sumir em minutos todo um discurso de meses. Foi enxergar um princípio de linchamento público injusto de quem me é tão querido. Desesperador presenciar conseguirem transformar algo com um potencial absurdo em merda. Angustiante perceber que aparentemente o poço não tem fundo em se tratando de certos assuntos, e quando você acha que já viu de tudo, a capacidade e a perspicácia pro revanchismo, personalismo, e manipulação se mostram ainda mais eficientes e produtivas.

Um ano que passou assim tão rápido resolveu guardar pra dezembro um de seus chacoalhões mais fundamentais. Porque depois que você pára de girar, girar, e encontra um novo eixo de equilíbrio, só permanece contigo o que verdadeiramente faz parte, faz sentido, e te preenche. Ficam sim pelo caminho algumas lágrimas, conceitos e gente que andaram junto durante parte do percurso, mas que agora decidiram por escolher uma direção diferente da tua. Ou será que fui eu que mudei de rota?

Na verdade, só me importa continuar sempre numa rota que eu sinta como minha. Ela pode (e vai) mudar de direção algumas vezes, ficar mais ou menos plana dependendo do momento, vai ter passagens solitárias entre outras coletivas mais animadas ... eu só preciso mesmo, durante esses momentos de tremores e pouca visibilidade, não perder de vista o porquê de eu acreditar e continuar trilhando, nem minha capacidade de me reinventar.

Já que desistir é algo que não acredito que dê pra fazer mais não. Uma vez picado pelo tal do mosquitinho, é crônico, não tem volta. Você continua fazendo sua “revolução” nem que seja no dia-a-dia, silenciosamente. Mesmo que não seja nos espaços maiores, mais reconhecidos, e freqüentados. E é uma luta que vale tão a pena quanto, talvez até mais.

"Ser eu mesma, num mundo que está fazendo tudo o que pode, noite e dia, para me tornar outra pessoa, significa lutar a mais árdua batalha que um ser humano pode travar, e nunca parar de lutar." (E. E. Cummings)


"E é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá.
E é tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho por mais que pense estar.
É tão bonito quando a gente pisa firme nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos.
É tão bonito quando a gente vai à vida nos caminhos onde bate bem mais forte o coração ..."